Friday, April 13, 2007

Epilepsia de inverno

Nos meus sonhos eles tem olhos vermelhos, não, não vermelho-vivo como sangue arterial, é um avérneo profundo, um escarlate, quase um da cor de um tinto carmim.

Eles se multiplicam com a minha respiração, não, os olhos e bocas tem mais vida-própria que eu, e se retorcem, contercem e engasgam no seu absurdo quase infinito.

Sim, bocas, milhares delas, dentes como anzóis cruéis, feitos para figar algo maior que um peixe. Bocas aos milhares com milhares de dentes maldosos.

Sorrisos maldosos, escárnio, desprezo, desespero, ânsia.
Lovecraft não se revira, ele ri; enlouquecidamente.
Eu travo, engasgo, trinco, soterrado embaixo do meu desejo por ..., engasgo naquele grito que nunca saiu e nunca vai sair.

Choques na cabeça, corrente alternada...

Acordo, não, eu não acordo. Entre a consciência e o sono, formigando, eletricidade(estática?); primeiro voltam os dedos, depois os olhos, depois o pescoço, braços e pernas, tá tudo ali, no lugar e funcionando.
Coberto de suor, malditas cobertas, o único cobertor que deveria existir é o humano, o vivo, que se afasta no calor e se aproxima no frio.

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Monday, April 02, 2007

Mad Max do arouche

Sonho louco, de gente louca.
Psicótico, suado e sujo, berrando com o olhar.
A puta tem gosto de cigarro, não, isso nem pode ser considerado cigarro, é um mata-rato, e dos vagabundos.
Ela diz que a chupada custa 50 reais, ao invés dos 10 habituais.
Ela me trata como um traficante trata um cheirador de coca. Não tenho dinheiro, ela diz que os preços aumentaram porque a polícia anda prendendo as vadias de rua.
Eu dou uma risada engasgada e saio desajeitadamente, meio envergonhado de ser um novo-pobre.
Ah...a classe média decadente, cheia de pústulas fedorentas, por dentro e por fora, um egoísmo fétido.
Queríamos nos livrar dos pobres, marginais, dos vileiros e quase conseguimos, quase...
Agora nós somos os pobres, não há mais em quem pisar pra se manter à meia-altura, a revolução foi inversa e a reação dela também, a pirâmide quebrou, perdeu sua base e agora nós somos o trampolim dos ricos, a bengala dos esnobes e opulentos.
Eu entro numa padaria, estranho, são 2 da manhã, nenhuma padaria abre a essa hora. É uma panificadora e vídeo-locadora 24h, com um enorme acervo daqueles filmes de ação dos anos 80. Encontro um antigo amigo do colégio olhando as prateleiras; cumprimento ele entusiaticamente, como sempre faço com amigos ou conhecidos que prestam. Ele mal responde, não me reconhece direito de cabelo curto: "Pedro?".
Sim, sou eu, acho, é, ainda devo ser, apesar do gosto de cigarro barato que nada tem a ver comigo entranhado na minha garganta, suando em minha pele.
Ele ainda não parece muito animado, nem eu, meu entusiasmo é falso, ele sabe disso, qualquer entusiasmo de alguém que não tem grana, portanto é obrigado a andar nas ruas imundas do século XXI, é falso.
Temos 30 anos, mas com uma expressão desiludida de crise de meia-idade, pior, de velhos moribundos, com alzheimer (voluntário no caso...).
Saímos na rua a conversar, passsos lentos, conversa fiada, mas boa, apesar de tudo.
Dois militares passam pela gente, nos olhando de cima a baixo, eles tem 40 ou 50 anos, gordos e robustos, provavelmente fortes e saudáveis, porque os militares tem que se sujar nas ruas modorrentas, mas ainda tem certos privilégios como comer uma bisteca de verdade.
Assim que o som de coturnos dando meia volta chega ao nossos ouvidos, ficamos sabendo que a noite é uma criança, mas uma crinça muito filha da puta.
Eles ordenam:
"Parem aí seus vagabundos!"
"Mão na parede porra!"

Eu tenho uma pedrinha de maconha no bolso.
Não tem como viver nessa merda sem ficar chapado. Não tem como.
Eu tinha duas opções:
-Nublar minha mente e fingir que sou feliz, mesmo correndo o risco de ser pego e condenado (caros amigos, no Brasil a sentença pra todos crimes e delitos é única e clara: execução, sumária se possível.)
-Cometer suicídio

Suícidio é a maior das fugas e, alimentando meu vício, ao menos eu tinha algo pra alimentar, a erva me deixa pacífico, reprime meu lado psicótico.

"Corre!!!"

O meu amigo tropeça e cai no chão... Não, eu não posso deixar ele pra trás, eu volto, ajudo ele a se levantar e nós dois levantamos as mãos, rendidos.
O maior dos dois milicos pula pra cima da gente, com uma faca em punho, ele me abre um talho no braço, idiota, não sabe usar a merda da faca, eu grito de dor, e começo a fingir que estou neutralizado e no que esse grande filho da puta vai pra cima do meu amigo, eu chuto ele pelas costas e ele cai, cravando a própria faca na garganta, engasgando em sangue e ar. O outro verdinho tá paralisado, surpreso, eu grito "corre!" pela segunda vez.

Corremos até o bar do joão, reaberto depois de anos fechado... ele já nem parece mais tão sujo, porque o que tem em volta piorou bastante nos últimos anos...
Sentamos em dois banquinhos no balcão, o cara desce duas cervejas, geladinhas, só pra contrastar com a noite abafada.
Nós dois sabemos que em pouco tempo vamos estar mortos ou foragidos.
Os milicos são juiz, júri e executor.
O meu amigo vira pra mim e fala:
"Foda-se, as putas são por minha conta!"

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Monday, March 26, 2007

Releitura

Só pra dar um ar pro blog vou reavivar um trechinho perdido
Noite de abril, começo do outono. Está chovendo. Heimler disse que me traria as cartas pela manhã, vamos estudar o caso da sra.Watkins e partimos no trem das 11. Nisso, tenho tempo ainda de comer três paes torrados com queijo, vestir meu pijama, ler poemas de byron e adormecer. Amanhã será um dia importante.

É uma noite fria de final de abril, já passa da meia noite e estou acordado ainda. Eu gostaria que estivesse chovendo, mas não está, além disso pela manhã vou me frustrar estudando francês para a prova de sexta feira. Acordo, enrolo, ouço música, tomo banho e tenho tempo de almoçar e pegar o ônibus até o bairro do cristal. Pego mais um ônibus e estou na aula. Ainda tenho tempo de ouvir mais três vezes as duas músicas que baixei num programa novo pelo computador, escrever mais um parágrafo, ler uma revista ou conto deitado na cama e esquecer que estou acordado. Amanhã...

Noite de abril complicada e que me deixou frustrado. Cada vez mais tenho que guardar meus sentimentos para mim e , por algum motivo que não entendo, escapam com força pelas frestas na barreira que levantei. Ouço streets of philadelphia me perguntando se vou ser deixado mais uma vez para morrer no deserto. As finanças vão melhorando, as produções científicas também. O moral está baixo, levantemos a população dessa cidade com templos, catedrais e maravilhas do mundo. As tropas são poucas, apesar de sempre termos pronto o nosso quartel. Essa cidade de algum jogo está numa posição de conforto momentâneo, mas ameaçada. Eu joguei esse jogo várias vezes essa noite. Vou construir mais tropas, construir uma catedral com paredes de cristal feitas mais para brilhar do que para esconder os seus tesouros, construir duas fortificações nos seus limites e... treinar um espião.

Noite de abril fria e sem chuva, sem conexão com as outras noites e com referências infantis e fantasiosas de quem quer alcançar alguma coisa até nesse tipo de noite.

por Fabrício Peponto da época que ainda assinava como Makyusho Tekiai

Tuesday, December 26, 2006

Agora

Nietzche, do alto de seu bigodão e loucura nômade já dizia que o homem não conhece a si mesmo como deveria, pois o momento onde ele existe, o presente, sempre é deixado em segundo plano.
Eu nunca fui uma pessoa de me soltar ou me deixar viver os momentos intimamente, explodo em sensações e idéias mas tudo é carregado desse lirismo literário e romantismo de botequim (e que botequim) que dá uma cor e uma direção nova à quase toda furada em que me meto. Mas só se tenho tempo para essas frivolidades.
Hoje aconteceu uma meia, não, uma dúzia inteira de coisas boas no meu dia e foi também quando me caiu a ficha não do que significa eu estar aqui dizendo que vou embora, mas disso: eu estou indo embora. Sem tempo pra esperar, pra ser mártir, pra dizer que vai se entregar.
Acabou velho, amanhã to indo pra praia, depois pra viagem, e depois não existe. Não existe depois pra mim, só um durante sabe, é que nem quando tu vai andar de montanha russa, fica horas e horas na fila, e ela vai subindo e subindo, e não interessa se tu vai comer cachorro quente depois ou em que outro brinquedo vai, quantas voltas tinha mesmo? Tem só o durante, e aquela primeira queda que te puxa do inferno da tua cabeça e te faz viver exatamente o que ta acontecendo.
Agora eu tenho ainda umas 8 horas pra arrumar minhas malas, dormir um pouco e estar fazendo meu passaporte brasileiro (argh), aí é almoçar com as pessoas que eu puder juntar e tocar reto estrada afora e não vou sozinho levar esses doces pa....
Indescritível, mas eu tentei. Resta o sonho de me ver salvo, de parar de ter medo das pessoas que tão na minha volta e deixar elas gostarem de mim dum jeito hold me closer tiny dancer... que bom que tenho tempo pra isso, tenho todo o tempo do mundo, estou cada vez mais perto do agora
Fabrício Peponto Buckley ao som de The Way Young Alice Do

Thursday, December 21, 2006

INACABADO.jpg


Essa é uma 'versão prévia' da Manny que eu ia postar.
To atucanado com o vestibular e to sem tempo e paciência pra desenhar o cenário ou os raios laser, mas a idéia e a piada tão aí, espero que se divirtam^^

Depois eu posto a versão definitiva
o/

Monday, October 30, 2006

PEDRO VELHACO
CADE A MANNY

Tuesday, October 24, 2006

"Idéias são coisas que os jovens carregam pra se iludir"

E ontem eu tava na aula de um dinossauro, um tanto entediado, e um livro chama minha atenção em cima da mesa de uma colega. "Adolescência Normal - Enfoque Psicanalítico" Uau! Eu tenho que ver essa pérola.
- Oi, por favor, eu posso dar uma olhada nesse livro? O título me chamou a atenção.
- Claro, pega. Ele é muito bom.
Eu meio que me rindo dei uma folheada, e no índice encontrei o último capítulo: "O adolescente e a atualidade". Aliás, o livro era de 1981. Me deparei com uma série de bla bla blás que já não eram muito atuais nos anos 80, o que dizer do começo do ´século XXI e das mudanças de consumo e desenvolvimento hormonal dos adolescentes.
- Gurias, desculpa, não quero ser grosseiro mas essa bibliografia ta completamente desatualizada, isso aqui fala de movimentos e subjetividades e tudo que não existe mais. O mundo mudou, aqui diz que a menina tem a adolescência dos 12 aos 21 anos e o menino dos 13 aos 25, mas agora já temos adolescentes de 40 anos!
- Ai, mas é que as coisas mudaram sim, mas tem que ver o que é o mais certo.
- Olha, o mais certo já acabou. Nós crescemos com propagandas de cigarro, e era menos errado fumar cigarro. Hoje em dia existe uma intolerância ao tabaco muito forte, e é o mais certo não fumar, ok? Então, esses mais certos aí de período de adolescência, mudanças e dinâmicas não existe mais, já foi, passou, já deu, c´est fini, caput.
..
- Mas é um clássico esse livro.
Claro que o livro é um clássico, ele fala de pessoas de alguma época clássica. O problema é que quem tava usando ele pra lançar um olhar na atualidade e pra fazer clínica com ele eram duas estudantes de psicologia quase formadas, por indicação de algum dinossauro como aquele que tava nos dando aula. Eu cheguei a falar em esquizoanálise e teorias sociais contemporâneas, mas elas não deram a menor bola, só defenderam o delas :/
Tá, se fosse gente séria tava fazendo engenharia mecânica mesmo, deixa assim. Saí da aula (vou pular um episódio da narrativa) peguei o T4 e chegando ali perto da Amrigs, que é uma associação de médicos do Rio Grande do Sul, eles colocaram dentro dela três enormes e bem iluminados outdoors da coca cola. Ta, não que coca cola seja o demônio pra saúde, mas os caras com certeza ganharam muita grana pra colocar os outdoors. Um pouco mais atrás tinha um outdoor enorme da campanha do fumo zero, pra promover a saúde. Agora eu me pergunto, "por que esses médicos fuinhas, que se dizem promotores da saúde, até senhores da saúde, fazem campanhas pras pessoas pararem de fumar de maneira radical, parecendo grandes puristas, mas na hora de botar um outdoor dentro das suas dependências, não botam nada daqueles sucos de soja ruins ou sucos naturais, botam da porra da coca cola , que é cheia de açucar e enche eles de pacientes diabéticos depois". Tudo bem que a macacada sempre se vende, aqui a gente convive com a indecência, o absurdo e os valores morais servindo de matéria prima pras piadas, da turma do didi à política. Mas esses macacos de roupa branca só se vendem sempre por MUITAS bananas, lembrem disso.
Fabrício Peponto